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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Artista “Rodado” em Porto Velho que deu uma de esperto e voltou para Pimenta Bueno


Meu amigo de 24 anos de coleguismo disse que queria contar uma experiência. Ávido por vida e conhecimento que sou, disse a ele que, como se tratava de uma experiência queria eu ouvi-lo com todo gosto.

Ele relatou, e verdadeiramente não tem motivos para querer me passar uma mentira, que determinada feita, quando ainda era solteiro, saiu de Pimenta Bueno desiludido e falido. Não agüentava mais o tédio e os negócios que não iam bem. Ele é do tipo de pessoa que resolveu não prestar vestibular porque entendeu que a faculdade, o famoso canudo, de nada lhe serviria, pois no que faz é autodidata e retentor de vasto conhecimento.

Ele trabalha confeccionando letras-caixa em inox, um trabalho que enobrece a fachada das empresas com o requinte e o brilho do metal, porém totalmente artesanal. Ele diz que não existe máquina para fazer letras-caixa, e tudo tem que ser feito à mão. Já o vi trabalhando no ofício. Como diz, “é só para quem tem muita paciência, ou para quem pretende exercita-la”.

Diferente de outros artesanatos pimentenses como os artefatos de barro, do tipo vasos, estátuas e pequenos utilitários, o trabalho do meu amigo Azarias, é este o seu nome, tem valor e os empresários pagam caro por ele. Inclusive disputam entre si para quem o artista fará o serviço primeiro.

Mas nem tudo foi assim. Quando meu amigo Azarias saiu de Pimenta Bueno para Porto Velho, como disse, chegou lá com R$ 200 reais no bolso. O irmão dele que mora na capital de Rondônia há muitos anos, é um vida boa do tipo que a mulher ganhava mais e, portanto, mandava na casa e na sua comida e nas suas roupas.

Azarias apesar de estar na casa do irmão sabia que não podia de se dar ao luxo de ser alimentado pela cunhada. Partiu para a rua em busca de trabalho, até porque o finado pai dele, o seu Chico, que Deus o tenha em bom lugar, lhe deu educação de homem e honra através do trabalho, de forma que se os filhos tiveram vícios, foram homens o suficiente para mantê-los sem lograr vantagem ilícita sobre seus semelhantes.

Depois de uma semana em Porto Velho Azarias estava duro. Não tinha uma ‘nica’ furada no bolso. Havia comido o dinheiro e o tempo fechou, não em casa, fechou entre ele e ele mesmo. Coisa da cabeça da gente que está prestes a não saber mais o que fazer diante de uma situação complicada como esta que aqui descrevo.

Então o artista profissional viu uma fachada para ser reformada. Era a oportunidade que ele precisava para trabalhar e ganhar um bom dinheiro.

Chegou, perguntou quem era o dono do estabelecimento, conversou com ele e foram, os dois para a frente da loja. Papo vai, papo vem e o dono da loja mandou a primeira bomba: “Onde fica a sua empresa?”. Diz Azarias que em pensamentos pediu para morrer: “Meu Deus do céu, eu aqui querendo um simples serviço para escapar das dificuldades e o cara me perguntando onde fica o meu escritório... to ferrado”, pensou o letrista sem tirar o olho do painel necessitando de reforma à sua frente.

“Olha meu senhor, disse ele, na verdade estou precisando de uma oportunidade para mostrar o meu trabalho aqui na capital, porque acabo de chegar do interior. Mas tenho muito conhecimento nesta área e lhe asseguro que o senhor vai ficar satisfeito com o resultado do meu trabalho”, argumentou esperançoso.

O proprietário deu uma olha de alto a baixo no meu amigo deixando explicitar que não fazia delongas em analisa-lo sem o menor pudor. Meu amigo é do tipo atlético mediano, mais alto que eu, um pouco fora do prumo, mas muito gente boa. Enfim, naquele momento crucial não se parecia em nada com uma pessoa capaz de fazer o serviço em que justamente ele é o melhor que conheço.

“Faz o seguinte, disse o comerciante sem titubear, dá uma passadinha aí amanhã”. Experiente, Azarias foi embora sabendo que de nada adiantaria voltar no outro dia.

E foi no outro dia que o artista arranjou um trabalho num lavador de carros. “Tem uns carros aí, me ajuda lavar e você recebe algum trocado”, disse o proprietário do lavador. Entendendo que nem tudo na vida é do jeito que a gente gostaria que fosse, o artista das letras-caixa nem pensou duas vezes: passou a mão na mangueira e mandou ver. Lavou todos os carros como confecciona letras em aço inox. Uma perfeição.

O proprietário do lavador gostou e o trabalho continuou no outro dia. Assim se passaram sete dias até que o patrão convidou Azarias para ir com ele buscar um carro na casa do cliente para lavar. Foram e trouxeram um belo carro importado, desses que a gente só terá à custa de muitos anos de dedicação e economias.

Quando o carro ficou pronto o proprietário do lavador pediu ao meu amigo que entregasse o veículo de volta ao cliente. Pedido que foi prontamente atendido pelo dedicado funcionário.

Azarias pegou a sua velha caixa de ferramentas que utilizava para dar assistência às fachadas que construía, e antes de chegar à casa do cliente, passou na mesma loja onde havia estado a pé na tentativa de reformar o letreiro.

O dono do comércio foi mais solícito e não reconheceu o meu amigo, que agora era, digamos, dono de uma respeitável empresa do ramo de publicidades a julgar pelo carrão importado que usava em serviço. Coisa chique mesmo.

Azarias jogou o preço de R$ 2.800 reais porque sabia que o comerciante fecharia o negócio por R$ 2.500. E assim foi. Depois de fechar o negócio o artista entregou o carro e voltou para o lavador, podendo ainda contar com a ajuda do patrão para conseguir andaimes e escadas emprestados.

O serviço foi concluído em apenas quatro dias e o pimentense recebia em Porto Velho o preço do serviço prestado. Ele conta que aquele trabalho lhe rendeu outras empreitadas, e no final de três meses que estava na capital pegava serviço de R$ 6 mil reais.


Hoje, de volta a Pimenta Bueno Azarias é o único Artista que confecciona letras-caixa em inox, realizando trabalhos para grandes empresas como metalúrgicas, faculdades da cidade e das cidades vizinhas, onde as suas fachadas estão entre as de maior destaque. Atualmente seus orçamentos variam de R$ 8 a R$ 15 mil reais, tem o seu próprio carro, uma família e uma vida razoavelmente feliz, trabalhando dentro de um barracão que comprou em sociedade com o sogro.

Não está rico, mas considera o seu trabalho uma diversão. Diz que em tempos passados faltava invocar o inferno quando algo simples dava errado. Hoje ele diz que está mais tranqüilo porque percebeu que tanto faz trabalhar debaixo do sol quente o dia inteiro, ou esperar pacientemente pelo horário mais fresco do dia, “o serviço será entregue do mesmo jeito”, diz ele.

Há quem critique o seu trabalho e encontre defeitos nas belas letras em inox que produz, mas ninguém vai até sua casa para saber se ele está precisando de alguma coisa, ou se está passando por alguma dificuldade. Então ele nem liga e segue o seu caminho como se os críticos não existissem. Portanto, nem se eu encontrasse alguma soldazinha fora do lugar, me daria ao enfado de aponta-la: melhor é enaltece-lo.

Um comentário:

Weuder disse...

Olá Arnaldo,eu gostaria de entrar em contato com o Azarias. Sou Sócio de uma Empresa de comunicação visual no Acre.

grato,


Weuder Henrique