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terça-feira, 23 de junho de 2009

Os anos passam e o asfalto avança: agora chegará ao Parecis – Breve relato sobre as estradas da região

Arnaldo B. T. Martins

Ainda me lembro de quando se gastava um dia inteiro para fazer uma viagem de Pimenta Bueno a Parecis, cem quilômetros, tempo que este último era distrito do primeiro. Era um sofrimento sem fim. Sei disto porque meu pai, Antônio L. T. Martins, há quase duas décadas Radiologista do Hospital Municipal Ana Neta, no início da década de 80 puxava toras em cima de um Chevrolet D60, desses que praticamente não existem mais em Rondônia, da fazenda Lavrama do Norte para as serrarias pimentenses, nos tempos de ouro do extrativismo natural, atualmente reprimido pelos poderes.

De outra feita, já na segunda metade da mesma década, lembro-me de uma viagem que fizemos de Jeep, outro veículo que quase não se vê mais, a não ser nos clubes organizados de colecionadores chamados “Jeepeiros”. O negócio é que viajamos em, pelo menos, seis pessoas dentro do apertado veículo, mais as tralhas e ferramentarias, além do rancho para dois meses. Um caos.

Nesse tempo os proprietários de sítios, como o meu pai, ainda eram incentivados pelo governo federal a desmatarem suas terras e plantarem, qualquer coisa, lavoura, pasto, tanto fazia, ao contrário do que acontece nos dias atuais, quando na poda de um galho de uma árvore recebe-se pesada multa com a eminente possibilidade de cadeia. Uma confusão só!

Mas quero me ater às estradas. Na época da seca os longos trechos de areia atolavam os caminhões e carros baixos. Na época das águas os longos atoleiros também seguravam os que se aventuravam em tão penosa viagem em cima de cargas altíssimas e perigosamente amarradas. Quantos não foram os que perderam a vida debaixo de toras e cargas de madeiras serradas, ou ainda caindo de cima dos caminhões!

O único meio de transporte automotivo nessas estradas acontecia pelo meio da carona. Os motoristas dos caminhões “toreiros” cobravam uma pequena taxa para transportar em cima das toras os que necessitavam de uma viagem, tanto de Pimenta Bueno para o Parecis, quanto mais no sentido contrário. Homens, mulheres, crianças e idosos penaram neste trecho doentes, à pé, em cima de animais ou de carona. Alguns não conseguiram chegar ao hospital e padeceram pelo caminho em busca da cura.

A mata, ainda alta e intocada na região, guardava seus encantos e perigos. Ao mesmo tempo em que se podia matar a sede em uma nascente à beira do caminho, deliciando-se de sua água límpida e fria, podia-se ser devorado por uma Onça Pintada ou “topar” com uma manada de “Porção” cruzando o caminho em bandos que passavam de quarenta animais. Veados Mateiros, Antas, Pacas, Tatus, Cobras, Aranhas, Escorpiões, Mutuns e toda espécie de bicho e inseto natural da Amazônia, eram encontrados aos montes nesta jornada.

Havia três alternativas distintas para quando uma estrada estivesse muito ruim. O caminho mais usado era o de sair de Pimenta Bueno, passar por Primavera de Rondônia, atravessar a Linha 45 e chegar ao Parecis; ou então pegar a RO 010 até a entrada de São Felipe, passar por esta cidade e encarar um duro trecho de pouco mais de 40 quilômetros de morros e pedras pelo caminho; ou ainda ir pela mesma rodovia até Rolim de Moura, depois Santa Luzia e, finalmente, Parecis, mas esta última opção era desgastante, porque tinha o dobro de distância com relação a primeira.

O Governo Cassol é um governo arrojado que já entrou para a história de Rondônia, uma vez que o Governador Ivo Cassol foi o primeiro administrador do Estado a ser reeleito seguidamente para dois mandatos. Depois também porque valorizou o interior de Rondônia como nenhum outro o fez, asfaltando várias estradas que ligam a BR 364, eixo dorsal rondoniense, aos municípios e distritos que anteriormente, por falta de estrada, ficavam abandonados até mesmo pelos representantes políticos locais.

Hoje, com o asfalto ligando os municípios da BR aos municípios do interior, estes têm a oportunidade de se desenvolverem com mais rapidez, a exemplo de Chupinguaia, estacionada no tempo por décadas, e mais recentemente experimentando com muita propriedade o sabor do desenvolvimento, principalmente depois que o asfalto chegou até a cidade, onde a produção de cana-de-açúcar cresce sem parar e uma usina hidrelétrica está sendo construída.

Agora é a vez de Parecis. O Governador Ivo Cassol assinou no último fim de semana uma ordem de serviço autorizando o asfaltamento de São Felipe a Parecis. O asfalto já liga a RO 010 a São Felipe, e os pouco mais de 40 quilômetros que faltavam serão concluídos até o ano que vem, segundo o Governador.

Apesar de o município ter a maior parte de suas terras formadas pela areia, os pontos de terra boa são excepcionais para o cultivo da lavoura, para a produção em grande ou pequena escala; é o dito lugar de onde se pode afirmar que “tudo, em se plantando, dá”. É uma região rica em água onde a criação de gado para corte e leiteiro já é uma referência.

Enfim, Parecis tem tudo em seu favor para se beneficiar economicamente com a chegada do asfalto até suas ruas, encurtando distâncias, bastando apenas que se pratique uma política local sadia, séria e compromissada com a população, ao contrário do que já se viu em dias passados, onde as diferenças partidárias chegaram a culminar em assassinatos.

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