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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Canção do Exílio da Casa

minha casa tem paineiras
onde cantam as cigarras
o meu peito tem cigarro
e o meu bolso prestação.

não permita, Deus, que eu morra,
mas que viva nessa droga
trabalhando na bigorna
e coçando o Sabiá.

minha casa tem mais flores
e uma renca de crianças
minha nega usa bobis
e o cachorro já nem late.

em cismar, sozinho, à tarde
pro boteco vou ligeiro
de cavaco e tamborim
atabaque e um pandeiro,
vez em quando, um bandolim.

minha casa tem amores
em distintas posições
ouço “Ratos de Porão”
não penteio meu cabelo.
em cismar, sozinho, à noite
chamo a nega no cipó
dou um grito de “Tarzan”
pulo e planto bananeira.
minha casa tem paineiras
nelas crio um Curió.

não permita, Deus, que eu morra
sem ter brilho de estrela
sem ter grana em um banco
sem pagar as minhas contas
dar meu nome à Rafaela.
minha casa tem mais vida
(muriçocas ao deitar)
não permita, Deus, que eu morra
ao cantar do Sabiá.

Londrina, 16 de fevereiro de 2005

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