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domingo, 26 de dezembro de 2010

Existe um pensamento político pimentense?

Existe um pensamento político brasileiro? – Raymundo Faoro – “A pergunta envolve duas proposições o pensamento político e urra especificidade, o pensamento político brasileiro. Se há um pensamento político brasileiro, há um quadro cultural autônomo, moldado sobre uma realidade social capaz de gerá-lo ou de com ele se soldar. Nesta parte, é oportuna a reflexão, dentro de farta bibliografia, da imitação, da cópia, da importação de paradigmas e modelos culturais. A primeira proposição, pertinente ao pensamento político, extrema o pensamento, o pensamento caracterizadamente político, da ideologia e da filosofia política, entendida nesta locução também a ciência política, mais por motivos de conveniência do que de rigor conceitual.

Para não descer às origens, o ponto de partida é o pensamento, sem voltar ao debate socrático acerca do conhecer e do saber, como está no Teeteto (PLATÃO, p. 88 - segs.). Pensamento, diga-se em redução dicionarizada e simples, é o que se tem em mente, quando se reflete com o propósito de conhecer algo, de entender alguma coisa e quando se delibera com o fim de tomar uma decisão. O pensamento, como ato de pensar, é uma atividade que se dirige ao objeto e cogita de apreendê-lo. Vai-se a definição, ainda que exposta a retificações, sempre provisória.

O pensamento político não é conversível à filosofia política, à ciência política ou à ideologia. Pode haver — e freqüentemente há — pensamento político que não é ideologia e que não é ciência e filosofia política. O pensamento político se expressa, quase sempre, em uma ou outra manifestação: como ideologia e como filosofia ou ciência política. Ele tem, entretanto, autonomia. (...).

A filosofia política e sua enteada, a ciência política, não nascem do mesmo parto. O pensamento político é a política, não a construção da política. "A filosofia política — lembra Leo Strauss - não se identifica ao pensamento político. O pensamento político é coevo à vida política. A filosofia política, entretanto, emergiu de uma vida política específica, na Grécia, em passado que deixou registros escritos. De acordo com a visão tradicional, o ateniense Sócrates (469-399 a.C) foi o fundador da filosofia política. Sócrates foi o mestre de Platão, este, o mestre de Aristóteles. As obras políticas de Platão e Aristóteles são as obras mais antigas dedicadas à filosofia política que chegaram até nós" (STRAUSS e CROPSEY, 1973, p. 1-2).

O legado socrático, na versão platônica, traduz o encontro entre filosofia política e política, numa encruzilhada dramática da humanidade, com a crise da polis grega. O acento dramático fica por conta da idéia de que o mundo político seria moldável pela arte humana, de sorte a entregar o poder político ao filósofo (WOLIN, 1960, p. 34). Nesta identificação entre filosofia e política está a base do construtivismo, que freqüenta a política ocidental em muitos momentos e em muitas direções. Trata-se de uma identificação que, na realidade, oculta o predomínio do logos sobre a praxis, em modelo sempre referenciável no voluntarismo, no denunciado despotismo das influências das teorias sobre os fatos, na importação de valores e programas. Entre o pensamento político e a filosofía política, nao haveria espaço em branco, coberto o eventual antagonismo com os filósofos no poder.

Ganha dimensão, no esquema, o elemento construtor, arquitetônico da política. O magistrado - dita o paradigma – seria igual ao cego se, como o pintor, não reproduzisse na tela o modelo, expresso na justiça (La republique, Pléiade, v. I, p. 1063) "Se o estadista for ignorante do fim a que visa, seria válido, em primeiro lugar, dar-lhe o nome de magistrado, e, em segundo lugar, como poderia ele salvaguardar o fim que não conhece?" Ausente da filosofia, quem seria o detentor do poder, senão o imprevidente oportunista? "Não seria surpreendente que, vazio de inteligência e de sensibilidade, se entregasse, caso a caso, ao fortuito da primeira coisa que ocorresse?" (La republique, Les lois, t. II, p. 1119).”

Existe um pensamento político pimentense? – Arnaldo B. T. Martins – O grandioso estudo de Raymundo Faoro acima mergulha no tema da questão para uma análise profunda sobre o pensamento na política brasileira. Nós, meros pimentenses, não teremos tempo ou meios de mergulhar junto com o autor do Artigo acima para desvendar as infindas sugestões de pensamento desta bela filosofia. Por isso me restrinjo a questionar se em Pimenta Bueno haveria pensamento na política.

A política pimentense é um pequeno bebê que nasceu do ventre de pais viciados e ainda se alimenta de impurezas e drogas, as mais diversas, porque o povo, responsável pelo crescimento e educação desse bebê, o cuida muito mal, deixando-o sozinho a maior parte do dia, e dando sonífero para que não atormente com choros e pedidos de mamadeira durante a noite.

Isto porque muitas práticas encobertas que se praticavam no início do período político pimentense, ainda se praticam hoje, onde o que prevalece é o interesse particularizado, primeiramente da maior parte dos políticos que estão no poder, salvo um e outro, e depois no jogo político das siglas partidárias que engendram manobras específicas na tentativa de se perpetuarem no comando da máquina pública, salvo uma e outra, esteja ela no Poder Legislativo, ou no Executivo e, porque não dizer, no Judiciário.

Portanto, não seria demasiado afirmar que ainda nem se sonha em pensamento político propriamente dito nos seios da "Princesinha da BR 364", porque como sugere o autor do Artigo acima, Raymundo Faoro, esse pensamento é o pensamento na íntegra do que representa no âmbito da política. Mas ao que se pode perceber em Pimenta Bueno, é que quando um político “pensa” na política local, ele “pensa” em si próprio e no que deverá fazer para se manter no poder e crescer dentro dele.

Não se tem notícia, em Pimenta Bueno, de um pensamento desprendido que tenha por objetivo principal o bem comum, que é a essência da política mais pura, que deveria existir para ajudar os mais necessitados que, por milhões de motivos diferentes não conseguem se sustentar em pé diante da sociedade que os assiste. Por isto mesmo é que os políticos, quase sempre se utilizam de manobras justamente em cima desta classe social para se manterem no poder, sem “pensar a política”, e sim, “pensando em si mesmos” como indivíduos que precisam, a todo custo, se manter onde estão atualmente, ou conquistar cadeiras em postos mais elevados.

Vez por outra, quando um político pimentense pensa em conseguir um recurso, ou uma benfeitoria para a comunidade, como dinheiro para ser investido em asfalto ou galerias pluviais, ou uma creche, ou a ampliação de uma escola, o pensamento sobre o benefício que isto trará ao povo, se vier em primeiro plano, vem apenas para camuflar o anseio particularizado emaranhado de pormenores no pensamento dessa personagem política, porque o que na verdade mais lhe interessa é o ônus político que esses recursos ou benfeitorias lhe trará para que permaneça onde está, ou, na melhor das hipóteses, lhe proporcione melhor projeção no âmbito político.

Neste contexto não vem ao caso citar nomes para que não se cometa injustiças, afinal de contas estou falando dos políticos de Pimenta Bueno. Compete ao povo “pensar a política pimentense”, para à partir desta importantíssima atitude escolher melhor os seus representantes, e ver, no futuro, os frutos desse “pensamento” sendo amadurecidos em setores como a saúde, a segurança pública, a educação e o bem estar social. Caso contrário, se a população não quiser se desfazer da canga e do tapa-olho, abrindo assim as portas para o pensamento político local, estará sempre à mercê de quem detém determinado poder, qualquer que seja ele, seja na cadeira majoritária do prefeito, na cadeira do legislador, e até mesmo, como acontece, na cadeira de algum secretário que se acha no direito de exercer mais autoridade do que realmente deveria.

O povo deveria ser o maior responsável pela existência do pensamento da política pimentense, mas ao que tristemente observamos diariamente pelas ruas da cidade, isto não ocorre entre as classes menos favorecidas que preferem se queixar da falta de ações do poder constituído em seus vários setores, enquanto assiste a novela das oito ou o jornal televisivo cheio de mentiras... infelizmente é assim que é.

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