PUBLICIDADE

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O Muito Escrever de Três Anos Depois

O meu muito escrever
De três anos depois
É o mesmo muito escrever
De feijão e arroz.
O meu muito escrever
É o escrever incessante
Adornado de pedras
De rubis, diamantes;
E se eu muito escrevo
Já não sou como antes:
Já não sou comandado
E não sou comandante.
Sou só um Escritor
Esculpindo diamantes.

‘Stou distante da terra
De três anos atrás
Se pudesse, voltava
E virava no ás.
O meu muito escrever
Me é particular
Ela tenta, em vão
Entender o que digo
E me acompanhar.
E por isso, no Artigo,
Continuo tão só
Escrevendo palavras
Que transformo em pó.
Continuo sozinho
Mesmo acompanhado
Permaneço sofrendo
Mesmo já libertado.
E depois do Encontro
Com o Deus da Verdade
Continuo escondido
Dentro da insanidade.

O meu muito escrever
Tem mistério e tem manha
Continuo escrevendo
Sob a teia da aranha.
O meu pai viajou
Sem ligar, disse nada.
Minha mãe, em Goiás,
Anda muito ocupada.
Minha irmã tem dois filhos
E está bem casada.
Meu irmão, em Lisboa,
Ta de volta com a Bia
E co’a vida arrumada.
Que importa o Dado?
Que importa o Poeta?
Que importa e Escritor?
Que importa a droga
De um Vate deixado
Ao mais frio relento
De uma noite sem fim?
Que importa o Dado?
Que te importa pra mim?

O meu muito escrever
É chorar de agonia
Conviver com o teatro
De um homem casado.
É querer não querendo
Conviver separado
Suportar um jejum
Que é em vão jejuado.
O meu muito escrever
Nem Benê entendeu
Logo ele que escreve
Tão mais belo que eu.
Não te escrevo, ó mestre
Pra que entendas o “ai”
Não te escrevo, vadia!
Não te escrevo: jamais!
Não te escrevo, escrava,
Porque és burra e cega.
Não te escrevo: amiga!
Não te escrevo: colega!
Não te escrevo, ó puta
As palavras que queres
Pois as mesmas palavras
Que quisestes um dia
Dou a outras mulheres.

Esse muito escrever
De três anos depois
É bem menos que antes
É bem menos que dois.
É o escrever de um só
De eu mesmo comigo
É o escrever do Poeta
É o escrever do bandido.
É o escrever do Artista
Como disse Zanolli.
É o escrever do amigo
Que não tem amizade
É o escrever de andante
Que não sai da cidade.

Eu escrevo tão certo
Como a luz desse dia
Que a letra é meu lema
Como Deus é meu guia.
Como tudo que escrevo
Numa mesa abastada
Quem não come comigo
Pois, não come mais nada.

Pimenta Bueno, 23 de Dezembro de 2007
(Todos os direitos reservados - Proibida cópia ou reprodução, em qualquer veículo de comunicação sem prévia autorização por escrito e assinada pelo autor. Copyright © 2007, by Dado Martins - Poesia - Arnaldo B. T. Martins

Nenhum comentário: