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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Um país sem cultura até para roubar quadros valiosos – Entre a realidade e a ficção


Nos acostumamos a ver nos filmes americanos que Ladrões com “L” maiúsculo que dispõem de alta tecnologia, astúcia, inteligência, roupas pretas coladas ao corpo, elegância, beleza e sensualidade, assaltam as mais refinadas e importantes instituições financeiras do mundo. Sempre se dão bem. São bandidos, mas o cinema moderno os fazem parecer mocinhos dignos de toda atenção e dó. Não roubam apenas dinheiro: roubam diamantes do tamanho da semente de um abacate, jóias da coroa da Inglaterra, documentos valiosos, ações ao portador e obras de arte, especialmente os quadros. Talvez, no cotidiano americano exista alguém no meio do povo comum capaz de agir como um astro de Hollywood na vida real, devido ao fácil acesso que os americanos têm à tecnologia e às armas do Século XXI.

Mas no Brasil não é muito diferente, pelo menos que que diz respeito ao acesso à tecnologia e às armas modernas. Ao passo que adolescentes vão às Lan-houses gastar dinheiro jogando na internet (quando poderiam estar acessando bibliotecas virtuais, por exemplo), existem traficantes nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo usando armas que nem mesmo soldado do Exército podem manusear, dependendo o grau da patente. Ou seja, para vender e usar drogas, manusear armas potentes e morrer antes dos vinte anos de idade, os traficantes e a juventude sem inclusão social do Brasil são referência mundial, mas para roubar (já que as questões das drogas estão ligadas diretamente ao roubo), os ladrões brasileiros perdem feio para os cidadãos americanos, quanto mais, para os “ladrões” americanos.

A cultura do Brasil é uma ilusão. Não vale um vento saindo do vácuo. Nascido em cima do sangue dos índios (aqueles da época do descobrimento), e dos negros escravizados, o Brasil se tornou um jovem rebelde, violento e burro, disfarçando a tragédia de sua realidade com danças regionalizadas, com eventos bairristas, com artistas que o são apenas à base de contratos, com novelas irreais passando a imagem de um brasileiro que só existe na ficção da TV das oito horas, e por fim, através de um show da realidade (reality show), mostrando a juventude e a beleza das pessoas que integram um reduzido grupo que representa, no máximo, um por cento das camadas sociais brasileiras. E a ‘burrice’ tanto avança que, nem mesmo uma linguagem própria para definir “chôu” e Brasil tem, e para dar créditos às suas funestas ações fantasiadas de alegria tem que importar uma palavra americana para expressar-se.

E tamanha falta de personalidade só poderia mesmo culminar na vergonhosa classe de ‘ladrões’ sem cacife para roubar. Existe um ditado popular que diz que “vergonha é roubar e não conseguir carregar o ouro”. Contudo o ditado personifica a triste realidade da nossa nação em todos os aspectos, no sentido de sermos todos ricos (em tudo), e não conseguirmos carregar o nosso ouro. Mas, por enquanto, quero ater-me ao aspecto do roubo.

Os ladrões brasileiros roubaram dois quadro do Museu de São Paulo – Masp, avaliados em R$ 100 milhões de reais, o equivalente a dez acertos na loteria em “tempos normais”. Logo, os ladrões que executaram a façanha não puderam usufruir o fruto de seu roubo porque somos um país sem cultura até para roubar quadros valiosos. De acordo com o ditado são uma vergonha, porque não conseguiram carregar o ouro que roubaram. Somos um adolescente dentro de um quarto mobiliado por seu pai e provido por sua mãe. Ele tem um excelente computador, mas só consegue usar o Orkut e o MSN; dentre os vários livros da estante revistas VIP e Play Boy; a página aberta do jornal no chão é a de “Entretenimento”. Ele realmente não liga para a bagunça que fez, ignora a sujeira empurrada para debaixo do tapete todos os dias, e passa suas melhores horas debruçado na janela olhando as garotas andarem na rua com seus cabelos loiros, peitos grandes, shortinhos brancos e botas vermelhas. Oh sim, elas são americanas.

A Polícia recuperou os quadros e levou os créditos. Que bom para o nosso país. Mobilizaram uma grande operação especializada em segurança e transporte de obras de arte para reconduzirem os quadros de Portinari e Picasso ao Masp. “O caminhão climatizado que transportou os dois quadros deixou a sede da Delegacia de Repressão a Roubos e Extorsões do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic), na Zona Norte de São Paulo. A operação, cercada de cuidados para não danificar as obras de arte, foi acompanhada pela restauradora e conservadora do Masp Karen Barbosa. Os quadros foram presos à lateral interna do veículo com cintas e uma proteção de espuma. Um helicóptero da Polícia Civil também acompanha a operação. A polícia preparou um grande esquema de segurança para o transporte das pinturas ''O lavrador de café'', de Candido Portinari, e ''Retrato de Suzanne Bloch'', de Pablo Picasso”. Os ladrões brasileiros não tinham grandes contatos através da Rede Mundial de Informações para transformarem a Arte roubada em dinheiro vivo assim que saíssem do museu. Não tinham contatos na Espanha, ou na Itália, ou ainda no Japão para venderem rapidamente os quadros roubados. Tinham, mas da forma errada, até porque se fossem contatos ‘quentes’, o roubo tinha dado certo. Nossos ladrões ficaram ‘rodados’ até a chegada da Polícia.

Queriam, certamente, enfeitar as paredes de papelão de seus barracos com R$ 100 milhões de reais.

Informações sobre os quadros roubados e o transporte dos mesmos:
G1 - Foto: Luciana Bonadio/G1

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