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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Um buraco na parede cheio de baratas - Benê Barbosa para o Folha Pimentense


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(Foto de Dado Martins para o PBURGENTE.com.br) Um dia uma das minhas filhas exigiu minha atenção, pedindo que eu olhasse uma coisa que ela considerou apavorante. “Um buiaco na paiede cheio de baiata”, dizia ela, num pânico de criança que começava a formar frases. A descoberta da pequena, um buraco na parede, cheio de baratas, é visão capaz de provocar muitas sensações. Vai do medo ao nojo. E não tenho dúvidas de que o caro leitor já criou a cena mentalmente e está entendendo o que digo.

“Tanca a poita do buiaco”, pedia minha filha, devidamente empoleirada no sofá. Mas era assim fácil trancar a porta daquele buraco. Alguns buracos em paredes são planejados, findam promovidos ao grau de portas e janelas. Só buracos graduados podem ser trancados. E hoje em dia existem buracos que deixam de ser simples buracos automaticamente. Grandes buracos em muros, por exemplo, viram portões eletrônicos.

Existem, porém, buracos marginalizados. Não faz muito tempo um buraco nas contas da Secretaria Municipal de Saúde fez sumir perto de um milhão de reais. Passou a ser conhecido como “rombo”. Nunca mais vai recuperar o respeito, a dignidade de ser um buraco honesto. Buracos que se metem no mundo da administração pública, que se envolvem na política, podem acabar muito mal. Muitos findam ganhando a denominação de “desfalque”, citados em processos judiciais. E buraco que vira desfalque não tem mais chance de recuperação, nunca mais deixará de ser um buraco-bandido. Por outro lado, alguns buracos acabam ficando íntimos das pessoas. Aquela família de buracos na antiga avenida Brasil já firmou grandes amizades. Estão lá há muitos anos, sem serem incomodados.

Na avenida Alcinda Ribeiro todos os buracos são velhos conhecidos de motoristas e motociclistas. Dizem que um velho buraco na avenida Carlos Gomes é compadre do Secretário de Obras, Josias Muniz. Também se comenta que um dos buracos na avenida 21 de abril está de casamento marcado. Sabem quem será o padrinho? Muniz, lógico.

Bom de voto, o deputado Kaká Mendonça parece que só gosta dos buracos da rua onde mora. Não há dúvidas que o deputado vem protegendo, já faz anos, aquela cambada de buracos nas proximidades do Estádio Municipal, no entorno da rodoviária, na saída para Rolim de Moura. Kaká está sendo bairrista, protege os buracos que são seus vizinhos. E que se entupam a buracaiada restante! Não existe um pimentense capaz que não seja capaz de se lembrar de um buraco que lhe seja particularmente especial. Aquela quadrilha de buracos nas proximidades da escola Lairce Santiago é famosa em toda a região. A gangue é temida. Poucos se arriscam a passar por lá.

Os buracos genuinamente pimentenses já fazem parte da rotina de todos nós. O que não podemos admitir é que buracos novatos, uns forasteiros abusados, deixem a cidade com má fama no Brasil inteiro. E o caso desses buracos federais que ocuparam o lugar das avenidas que margeiam a BR-364. Eles ficam ali bajulando dois buracões que tem a pretensão de um dia alcançar o posto de viadutos. E esculhambam com a imagem da cidade, porque todo mundo que passa por ali vai embora indignado, levando a impressão de que a classe política não tem o menor respeito pela sua gente.

Os buracos vizinhos do Kaká, os que são compadres do Muniz, os amigos do prefeito e até os buraquinhos cabos eleitorais dos vereadores são toleráveis. O que não se pode permitir é que essa gangue de buracos, totalmente protegida pelo DNIT, continue produzindo a impressão de que nossa cidade não tem governo. Hoje minha filha está adulta e acha que nenhum buraco na parede, por mais cheio de baratas que esteja, consegue ser tão feio quanto o que vê nas avenidas marginais.

Assim, se a sociedade pimentense não se mobilizar rapidamente, não demora para que o Estado inteiro pense que a cidade está largada às baratas. Curioso é que muito já se falou no desânimo da população em relação ao futuro. Até se trabalhou firme em campanha para que os pimentenses recuperassem a auto-estima, manifestasse seu carinho pela cidade. Mas está ficando cada vez mais difícil ter orgulho de ser pimentense com um cartão de visitas desses.

Necessário, então, que as lideranças classistas se mobilizem, cobrem providências do DNIT. Eles é que tratem de diminuir a influência negativa que esses buracos federais marginais estão causando à imagem da cidade. Ou a cidade acaba virando mesmo um imenso buraco cheio de baratas, sapos, caramujos e outras pragas! Inclusive algumas humanas e detentoras de mandatos...

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